Americanas Sobe 200% em Poucos Dias. Fim da Crise ou Mal Entendido?

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Desde janeiro de 2023, a Americanas (AMER3) vive um pesadelo. Depois da descoberta de um rombo de R$ 43 bilhões em dívidas que não estavam contempladas em seus balanços, a companhia viu a sua diretoria pedindo demissão, o seu valor de mercado despencar, a confiança do mercado sumir e, claro, um longo e complexo processo de recuperação judicial batendo em sua porta. 

De lá para cá, quedas abruptas de valor não são uma surpresa para a empresa. Já as altas são. Pelo menos até a semana passada. Nos últimos 5 pregões, as ações sobem mais de 200%. 

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Apesar da forte alta dos papéis, o desempenho recente está longe de apagar as perdas acumuladas pela companhia. Só em 2024, a queda ainda é de 95,91%, a R$ 9,52. Longe dos patamares pré-escândalo. A alta poderia ter sido ainda maior caso os ganhos desta segunda-feira (18) não tivessem arrefecido. Na máxima, os papéis chegaram a subir mais de 20%. 

Levando em consideração os ajustes feitos após grupamentos de papéis feitos pela companhia ao longo dos últimos dois anos — o último deles realizado no dia 26 de agosto — os papéis pré-crise custavam R$ 1,2 mil. 

Por que os papéis da Americanas sobem?

Uma alta de 200% em uma janela pequena de tempo chama a atenção — principalmente por conta do processo de recuperação judicial da empresa — e coloca em dúvida a sustentabilidade do movimento. Trata-se de uma recuperação fundamentada ou apenas uma reação exagerada aos últimos números da companhia? 

Para tentar entender essa história é preciso voltar ao dia da divulgação do balanço do terceiro trimestre, no dia 13 de novembro, quando a empresa — depois de uma bateria de balanços fora de época — divulgou os seus números do terceiro trimestre deste ano. 

A receita líquida foi de R$ 3,1 bilhões, alta de 0,6% frente ao mesmo período do ano passado. O lucro bruto alcançou a marca de R$ 1,03 bilhão, um crescimento de 9,2% na comparação anual. O EBITDA (Lucro Antes dos Juros, Impostos, Depreciação e Amortização) ajustado foi de R$ 497 milhões.

De forma geral, esses números foram vistos como mistos do mercado. É que apesar de uma melhora na estratégia de precificação da companhia, o que elevou a margem financeira, e o crescimento de 11% nas lojas físicas, o e-commerce viu uma queda de 45% no período. 

O número que saltou aos olhos de muitos investidores foi o lucro líquido: R$ 10 bilhões. 

Essa linha do balanço sozinha não quer dizer que a companhia tenha, de fato, retornado aos trilhos. Existe uma série de fatores alheios ao faturamento que levaram ao resultado positivo

  • No trimestre, a companhia finalizou o seu processo de aumento de capital, o que injetou R$ 24,5 bilhões via emissão de 18,8 bilhões de novas ações ao preço de R$ 1,30;
  • Um estorno contábil de R$ 4 bilhões;
  • Acordo com credores para a redução da dívida total da empresa, o que recolocou R$ 11,8 bilhões como patrimônio positivo para a companhia;
  • O resultado foi a reversão do patrimônio líquido — de -R$ 30 bilhões no trimestre anterior para R$ 6 bilhões. 

Os números mostram que a companhia tem tido sucesso em cumprir os termos de seu acordo com os credores, o que faz parte do seu processo de recuperação judicial. Ela conseguiu reduzir a sua dívida bruta dos R$ 45 bilhões registrados em junho deste ano para R$ 2 bilhões. 

Segundo a gestão da companhia, o momento atual pode ser categorizado como a fase “Estancar a crise”, onde todas as medidas emergenciais necessárias são tomadas, assim como a renegociação das suas dívidas contidas no processo da RJ. Agora, a busca é por voltar a ter uma geração de caixa operacional sustentável e eficiente. 

Na teleconferência que se seguiu aos resultados, a gestão da companhia reforçou a excepcionalidade do trimestre, com o grande foco em cumprir os compromissos de sua recuperação judicial. 

É justificativa suficiente?

Apesar dos avanços vistos na resolução dos itens mencionados acima, a verdade é que esses já eram movimentos esperados e documentados no processo de RJ. Ou seja, não deveria ter pego ninguém de surpresa. 

Ao longo de toda a segunda-feira, a Forbes tentou contato com diversos gestores, analistas e bancos de investimentos para comentar os números e o movimento das ações, mas obteve em sua maioria respostas negativas. A situação aponta que os fundos de investimentos seguem distantes do papel e que boa parte das casas de análise ainda não sentem a confiança necessária para voltar à cobertura habitual na empresa. 

A negativa pode ser uma pista de que não se trata de um retorno de investidores institucionais para o papel e sim um movimento capitaneado por investidores de varejo ou qualificados individuais. 

O sócio de uma gestora paulista aponta que apesar de algumas melhorias operacionais, o resultado positivo é fruto apenas do avanço do aumento de capital e renegociação das dívidas. Olhando para frente, além das melhorias operacionais ainda necessárias, a empresa também enfrenta um cenário macroeconômico desafiador para o varejo, com juros altos impactando o consumo.

“Temos um caminho muito mais longo para que o investidor institucional volte a ter uma posição no ativo. Querendo ou não, também é observado uma procura dos papéis para especulação”, afirma. O último dado público disponível mostra um aumento no percentual de ações alugadas da companhia — um termômetro de que existe uma aposta em uma queda expressiva dos papéis. 

Hoje, a Reuters afirmou que o investidor pernambucano Inácio de Barros Melo Neto — que recentemente, em julho, se tornou um acionista relevante da Americanas — segue comprando papéis da empresa. Em agosto, com o grupamento de ações feito pela companhia, a sua participação se diluiu. Ele ficou com 1,4 milhão de ações pós-agrupamento e afirma ter comprado o suficiente para chegar aos 3,240 milhões. 

Para o investidor em busca de ganhos rápidos e exponenciais, vale o alerta: ações de empresas em recuperação judicial costumam apresentar alta volatilidade devido ao seu preço baixo e, na maior parte das vezes, a baixa liquidez que atinge esses ativos. 

Por ora, ainda é cedo para cravar uma recuperação sustentável do valor de mercado da companhia. O que se sabe é que a Americanas está sim fazendo a lição de casa, mas ainda tem um longo caminho a ser percorrido. 

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